Dizem alguns amigos meus que tenho mau feitio, mas eu não me incomodo nada com isso e .... seja defeito ou “mau” feitio, já não vou mudar.
Mais um episódio nas urgências do Hospital de S. José.
Ontem (6ª feira), levantei-me com muitas dores na coluna (já ando assim há 2 meses) e ao abrir o armário dos medicamentos dei de caras com um analgésico/antipirético para tomar em SOS.
Em SOS ando eu sempre, mas desta vez não resisti e tomei 1 cápsula “Lyrac 150”.
Bebi o chá e comi uma fatia de pão torrado.
Meia hora depois começaram as tonturas, visão turva e nauseas.
Lá me fui arrastando entre a cama e o sofá mas a situação piorava a cada momento.
Ás 14 horas já não me aguentava de pé e lá fui amparada pelo meu filho até á cama onde caí quase inanimada.
Filho ao telefone – Boa tarde, a minha mãe está........ blá blá blá
112 – blá blá blá vamos já enviar uma ambulância
Uns minutos depois chegam os bombeiros que ao fazer os testes e perguntas da praxe, seguem rumo a S. José.
Tinóni Tinóni
15:13 – Chegada ao H. S. José o bombeiro faz a informação na triagem e numa das informações diz:
- A Sr.ª tem isto, isto, isto ....... e uma ileostomia há 9 anos.
- A médica – Que palavrão é esse?
O Bombeiro indignado com a questão da médica estagiária, responde-lhe:
- A Srª não tem intestino e usa um saquinho Sr.ª Dr.ª. Não sabe o que é?
Volta para junto de mim e diz-me:
- Você fica bem entregue, a médica não sabe o que é uma ileostomia!
Entrada imediata para o balcão de urgências.
Um primperan para pararem os vómitos e um Diazepam (relaxante muscular).
O médico não gosta muito dos sintomas e diz:
- A princípio achei que fosse um AVC ou alguma perturbação a nível do sistema nervoso central.
Vai a Otorrino para despiste, vai fazer um ECG e análises.
Alguns minutos passados e mantendo a dificuldade em articular palavras, as mãos geladas com os dedos dobrados e os pés gelados, pedem-me para passar para um cadeirão pois a maca faz falta para outro doente.
A cambalear e apoiada na auxiliar lá me arrastei até a um cadeirão onde me colocaram um cobertor a apoiar a cabeça e outro sobre as pernas para não arrefecer (gelada já eu estava).
Mais alguns minutos passados vem outra auxiliar pegar-me pelo braço.
- Não há cadeiras de rodas, faça lá um esforço para se equilibrar que vamos ao Otorrino.
Tombo para cá, pancada para lá, mão na parede, braço apoiado na auxiliar, lá chegámos ao outro lado do corredor.
- Estamos a ver um doente leve a senhora de volta que já a chamamos daqui a 15 minutos.
Percurso inverso, 30 minutos de espera.
Voltamos lá e estavam a conversar pois nitidamente tinham-se esquecido de me chamar.
No Otorrino fazem-se os testes do costume e acontecem os desequilíbrios uns atrás dos outros.
Depois de alguma explicação chegamos á fibromialgia que tenho há 4 anos.
“Vertigens, dores agudas, cansaço permanente, visão turva, zumbido nos ouvidos” ... não há dúvidas que é uma crise de fibromialgia em estado avançado.
- Tome este comprimido que não lhe vai resolver o problema mas tb não lhe fará mal nenhum.
De volta ao balcão já o cadeirão estava ocupado. Sento-me por breves instantes numa cadeira.
- Vá fazer um electrocardiograma e estas análises lá ao fundo do corredor.
- Sim, eu sei onde é mas não consigo lá chegar pelo meu pé.
- Vá aqui encostada a esta parede que lá ao fundo tem uns bancos.
A parede foi o meu amparo e lá cheguei á porta da analista (7 pessoas em pé á espera), voltei-me para a porta do ECG (tontura)... várias mãos dão apoio e lá se equilibra o esqueleto.
Deitada uns breves minutos para o ECG, foram óptimos para recuperar algum equilíbrio.
A braçadeira do pulso não faz contacto e há necessidade de a subir quase até ao cotovelo (A Sr.ª é muito magra)....... são 45kgs para 1,72m.
De volta ás análises, aguardar em pé alguns minutos numa zona de corrente de ar (quem lá vai sabe do que estou a falar).
Foi rápido tirar sangue.
- Aguarde +/- 2 horas pelo resultado.
De volta ao corredor frio e em corrente de ar, cheio de gente em pé e outras tantas sentadas nos poucos bancos disponíveis, lá se levanta um senhor, depois da enfermeira solicitar que os acompanhantes se levantassem para dar lugar aos doentes.
A sala do bar costuma ter ar condicionado e lá fui sentar-me numa cadeira do bar a beber um chá quentinho a fazer tempo para voltar ao balcão e saber o resultado dos exames.
2 Horas depois (19,30) as análises já lá estavam mas tinha que aguardar pois estavam a observar outros doentes.
Entretanto o Eng.º chega e faz alguma companhia.
Esperei... esperei... esperei... pedi... voltei a pedir... (60 minutos depois).
- Electrocardiograma (ligeira arritmia), análises (ligeira anemia, magnésio, potássio, cálcio, ferro... baixinhos), tem que engordar.
Vá ao seu médico de família para a enviar a neurologia e controle a fibromialgia com o seu reumatologista.
Boa noite e as melhoras.
- Obrigada (ainda agradeci! Estava mesmo doente !!)
Atravessar o H. S. José de ponta a ponta, debaixo de chuva, porque não foi permitido o Eng.º entrar com o carro que ficou estacionado nas imediações.
21:00 Horas – Chegar a casa, fazer um chá, estender roupa, arrumar a cozinha do jantar da família, beber o chá, deitar e dormir até de manhã.
O dia de hoje foi mais calmo mas ainda penoso.
Assim vai o SNS neste país á beira-mar plantado.
Nota: O H. S. José está em obras na antiga zona de urgências e SO há mais de 6 meses.
O atendimento é feito num corredor adaptado com painéis e cortinados (zona dos claustros) que tem recebido alguns melhoramentos de condições de atendimento mas que está, como vos descrevi.
Se eu tivesse o tal “mau feitio” que disse no início não teria vindo para casa sem reclamar por escrito, os lamentáveis episódios por que passei ontem naquele Hospital.
Quem me conhece sabe que não foi a 1ª vez que passei por situações caricatas em S. José, mas tb diga-se a bem da verdade que é num Hospital Civil que me têm salvo a vida, (Stº António dos Capuchos), onde o atendimento é melhor, mas mesmo assim, longe de ser o desejável.
Até um dia destes que pelos vistos a saúde vai continuar ausente aqui por estes lados!!
Grilinha