by Roncinante in http://jumento.blogdrive.com/ (visita recomendada)
Fundiu-se a lâmpada do meu gabinete, e começa uma longa viagem pela burocracia interna da administração Pública.
Tenho que avisar o chefe de divisão, que por sua vez fala com o director de serviços que comunica o facto o seu homólogo responsável pelos aprovisionamentos; este último dá instruções ao chefe de divisão, que se dirige ao chefe de secção.
O Chefe de secção constata que não há lâmpadas em stock e sendo urgente conclui que não se justifica uma consulta; informa do facto o chefe de divisão, que vai de imediato informar o director de serviços. É necessário comunicar com o director de serviços financeiros, que terá que recorrer ao fundo de maneio para disponibilizar a quantia exacta necessária para a adquirir a lâmpada numa qualquer loja. Questiona o seu colega sobre quanto é que a lâmpada custa efectivamente custa e este não sabe; terá que perguntar ao seu chefe de divisão, que dará instruções ao chefe de secção para telefonar para a loja.
Telefonema feito, o chefe de divisão já sabe quanto custa a lâmpada, e de seguida é o director de serviços a saber e a comunicar a quantia ao seu colega, que dará conhecimento ao seu chefe de divisão. Colocada a quantia necessária para adquirir a lâmpada no respectivo envelope, este faz o percurso até chegar ao director de serviços dos aprovisionamentos.
Agora é só mandar comprar, nada mais fácil? Não, a loja fica a quinhentos metros, e a auxiliar tem bicos de papagaio, não pode andar tanto; e o motorista invoca que é motorista, não tem que andar a comprar lâmpadas, além de que pode ser multado enquanto para o carro e vai à loja. A solução foi encontrada, foram comprar a lâmpada o motorista e a auxiliar dos bicos de papagaio.
A lâmpada é comprada num instantinho, só resta colocá-la; mas o serviço não dispõe de electricista, o motorista não sai do carro e a auxiliar tem bicos de papagaio. Trazem-me a lâmpada, eu que a coloque; entretanto eu próprio já lá tinha colocado uma lâmpada que comprei já há alguns dias atrás.
Assunto encerrado? Nem pensar.
Um ano depois o auditor da Direcção-Geral do Orçamento estranha que tenha sido comprada uma única lâmpada, que ainda por cima se encontra em stock. Passa dias a investigar toda a papelada e conclui que não consegui apurar se a lâmpada adquirida seria mesmo necessária, tanto mais que estando em stock a lâmpada nova, lá não encontrei a lâmpada fundida; concluo que o dirigente deve repor a quantia ao custo da lâmpada por se tratar de uma aquisição indevida.
Seis meses mais tarde é uma Auditoria do Tribunal de Contas a preocupar-se com a já famosa lâmpada e o seu auditor conclui no seu relatório, após aturadas investigações: é má prática a aquisição de uma única lâmpada para constituição de existências.
Julgava eu que o tema estava acabado quando aparece um inspector da Inspecção Geral de Finanças; alguém escreveu uma carta anónima insinuando favorecimento da loja onde a lâmpada foi comprada. Quanto a esta última investigação desconheço o resultado, o inspector ainda por lá anda
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